O câncer, conhecido na medicina como neoplasia, é uma doença complexa que afeta milhões de pessoas no mundo todo e, ao longo das últimas décadas, a busca por novas abordagens terapêuticas tem sido constante. Nesse contexto, o uso medicinal da Cannabis tem ganho destaque. Mas até que ponto seu uso é eficaz no tratamento do câncer?

Como a Cannabis atua no nosso organismo?
A Cannabis sativa é uma planta que contém diversos compostos bioativos, sendo os mais estudados os tetrahidrocanabinol (THC) e canabidiol (CBD). Nosso organismo possui um sistema conhecido como sistema endocanabinoide, composto por receptores (CB1 e CB2) presentes ao longo de todo o nosso corpo e que regulam funções como dor, inflamação, apetite e humor. Os canabinoides da planta interagem com esses receptores, podendo gerar efeitos terapêuticos decorrentes do uso do óleo de Cannabis.
Cannabis e Câncer: O Que as Pesquisas Indicam?
Como já foi apresentado em outros momentos nesse blog, a medicina não é uma ciência exata e cada pessoa pode ter uma resposta diferente frente ao mesmo tratamento, assim como tratamentos distintos podem levar a resultados semelhantes.
O efeito que todos nós gostaríamos, da cura do câncer, é sonhado ao longo de gerações, mas ainda não se conhece nenhuma planta, nem mesmo a Cannabis, que possa oferecer. Mas sim, a Cannabis pode ser uma opção para a melhora da qualidade de vida das pessoas em tratamento para neoplasias, podendo ser adjuvante a outras modalidades como a quimioterapia, radioterapia e/ou cirurgia.
As pesquisas têm sugerido que os canabinoides podem ter efeitos benéficos em diferentes aspectos do tratamento oncológico:
Controle da dor: Pacientes com câncer frequentemente sofrem com dores crônicas devido à doença ou às terapias como quimioterapia e radioterapia. Tanto o CBD quanto o THC demonstraram ter propriedades analgésicas, podendo ser uma opção complementar no manejo da dor.
Redução de náuseas e vômitos: A quimioterapia pode causar efeitos colaterais debilitantes, como náuseas e vômitos severos. O uso de canabinoides, especialmente o THC, já é aprovado em alguns países como tratamento auxiliar para esses sintomas.
Estimulação do apetite: Muitos pacientes oncológicos sofrem com perda de peso e caquexia. O THC pode ajudar a estimular o apetite, contribuindo para a manutenção do estado nutricional.
Efeito anti-inflamatório e imunomodulador: O CBD tem propriedades anti-inflamatórias, podendo auxiliar na redução de processos inflamatórios associados ao câncer e ao tratamento. Estudos adicionais precisam ser realizados para compreender se esse efeito anti-inflamatórios e imunomodulador têm relevância clínica.
Cannabis pode curar o câncer?
Até o momento, não há evidência científica suficiente que apontem para a cura definitiva do câncer. Alguns estudos laboratoriais e modelos animais sugerem que os canabinoides podem inibir o crescimento de algumas células cancerosas, induzir apoptose (morte celular programada) e reduzir a formação de novos vasos sanguíneos que alimentam tumores. No entanto, nem todos os estudos em laboratório se concretizam na prática e o potencial efeito antitumoral não foi confirmados em ensaios clínicos robustos em humanos. Dito isso, já adianto o que digo para meus pacientes no consultório: a Cannabis pode ser vista como uma terapia complementar, jamais como substituta dos tratamentos convencionais, como quimioterapia, radioterapia e cirurgia.
O Uso da Cannabis no Tratamento Oncológico
Como apontei acima, alguns sintomas relacionados ao tratamento do câncer podem ter uma melhora maior com CBD ou com THC, ou mesmo com a combinação dos dois. Além disso, alguns quimioterápicos podem apresentar interações farmacológicas com os diferentes canabinoides. Dessa forma, sugiro que a utilização da Cannabis medicinal se dê sob supervisão médica, especialmente porque os efeitos podem variar conforme a dose. Em alguns países, medicamentos à base de Cannabis sativa já são aprovados para indicações específicas dentro do tratamento oncológico, enquanto outros ainda mantêm restrições.
Se você tiver interesse em conhecer também estratégias alimentares que possam contribuir com o tratamento do câncer, acesse Dieta Low-Carb e câncer, até que ponto há relação?
Conclusão
A Cannabis medicinal apresenta um grande potencial como tratamento auxiliar para pacientes com câncer, ajudando no controle da dor, na redução de efeitos colaterais da quimioterapia e na melhoria da qualidade de vida. No entanto, seu uso deve ser complementar as terapias convencionais e sob orientação médica. Com o advento das pesquisas e evidências clínicas, o papel da Cannabis no tratamento oncológico pode se tornar ainda mais relevante, mas, por enquanto, seu principal benefício consiste no alívio dos sintomas e na melhoria do bem-estar dos pacientes.
Paulo Henrique Mai
Médico - CRM/PR 38.165
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