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Verdades sobre a Dieta Carnívora: o que sabemos até agora?

Pedaços de carne numa grelha em churrasqueira

Nos últimos meses, a chamada Dieta Carnívora tem ganhado destaque nas redes sociais. Defensores alegam benefícios que vão desde o emagrecimento até a reversão de doenças crônicas. Mas o que diz a ciência? O que é fato, o que é mito — e o que precisamos saber para que nossas escolhas alimentares sejam conscientes?


Neste post, compartilho uma análise criteriosa sobre essa abordagem alimentar. Vamos discutir seus possíveis benefícios, limitações, riscos e, principalmente, sistematizar um pouco das informações fragmentadas que as redes sociais tem nos apresentado.


O que é a Dieta Carnívora?

Nas redes sociais, a Dieta Carnívora é definida como uma alimentação baseada exclusivamente em produtos de origem animal — majoritariamente carnes. Algumas pessoas incluem ovos, laticínios (como queijos, iogurtes e manteiga), enquanto outras optam por se abster desses derivados. O denominador comum é a eliminação completa de vegetais, frutas, grãos e leguminosas.


Há evidências científicas que sustentam essa dieta?

Um dos estudos mais citados sobre o tema foi conduzido por pesquisadores de Harvard em 2020. Trata-se de um levantamento observacional, realizado a partir de um questionário online, onde os próprios praticantes da dieta relataram suas percepções sobre saúde, peso, glicemia, pressão arterial, entre outros. Embora os relatos tenham apontado melhora em diversas condições clínicas, esse tipo de estudo tem baixa força de evidência. Ele não permite afirmar com rigor se os resultados foram consequência da dieta em si, da retirada de ultraprocessados, da restrição de carboidratos ou mesmo de efeitos subjetivos como o viés de confirmação.


Em suma, não temos evidência científica robusta que comprove a eficácia ou a segurança da Dieta Carnívora como intervenção de longo prazo.


Mas então, por que ela parece funcionar?

Apesar da falta de respaldo específico à Dieta Carnívora, há evidências sólidas sobre os benefícios de dietas com baixo ou muito-baixo teor de carboidratos, também conhecidas como Low-Carb ou Very Low-Carb. Essas estratégias têm mostrado eficácia no controle de obesidade, hipertensão e diabetes tipo 2.


A Dieta Carnívora, por definição, é extremamente low-carb — e é provável que seus resultados positivos estejam mais relacionados à restrição de carboidratos do que à exclusão de frutas, legumes e vegetais.


Eu indicaria Dieta Carnívora aos meus pacientes?

Com muita sinceridade: num primeiro momento, não.


O que recomendo veementemente, especialmente para pessoas com doenças metabólicas, é reduzir significativamente o consumo de alimentos ultraprocessados, açúcares, farináceos e vegetais ricos em amido. Isso está alinhado com diretrizes internacionais, como as da Sociedade Americana de Diabetes, e tem base em extensa literatura científica.


Acredito que uma alimentação baseada em alimentos naturais de origem animal e vegetal, como carnes, ovos, azeite de oliva, e vegetais de baixo amido (abacate, couve-flor, agrião, tomate, brócolis, etc.), pode oferecer os mesmos benefícios metabólicos da Dieta Carnívora, com variedade e equilíbrio nutricional.


Quando eu consideraria prescrever a Dieta Carnívora?

Talvez — e apenas talvez — em um caso muito específico: alguém que precise de uma regra extremamente rígida e simples para iniciar uma mudança alimentar, e não consiga aderir a outras formas de alimentação low-carb. Até hoje, nunca encontrei essa necessidade na prática clínica. Mas, se acontecesse, seria uma indicação por tempo limitado, como estratégia de transição. Sempre tendo em mente que obesidade e doenças crônicas são condições crônicas e, de tal modo, mudanças de hábitos e estilo de vida precisam ser pensados para que possamos mantê-los por anos, ou mesmo décadas.


Existem riscos na Dieta Carnívora?

Essa é uma das principais preocupações. A verdade é que não sabemos. A ausência de dados científicos de qualidade sobre a segurança a longo prazo da Dieta Carnívora nos impede de afirmar que seja perigosa ou isenta de riscos. Uma alimentação restrita pode gerar deficiências nutricionais, desequilíbrios metabólicos e impactos ainda desconhecidos sobre a microbiota intestinal e sobre o sistema cardiovascular. Por outro lado, os alimentos de origem animal são fontes com alta biodisponibilidade de proteínas, lipídios, minerais e vitaminas, além do fato de que o controle de condições metabólicas por meio de estratégicas com baixo carboidrato definitivamente melhora os desfechos das pessoas com tais condições de saúde.


Se você está considerando essa abordagem, faça isso com acompanhamento profissional, monitorando parâmetros laboratoriais, sinais clínicos e escutando seu corpo.

alimentos low carb

Concluindo

A Dieta Carnívora surgiu nas redes sociais, e é no espaço virtual que se propaga. Não existem evidências robustas sobre e os benefícios relatados por seus praticantes são coerentes com o que se observa em dietas com restrição de carboidratos — o que não exige, necessariamente, eliminar frutas e vegetais.


Recomendação de leitura: Uma dieta além da moda, livro de José Carlos Souto.


E repetindo o clichê que tanto trago por aqui, alimentação pode (e deve) ser feita com base em ciência, escuta e autoconhecimento.



Paulo Henrique Mai Médico de Família

CRM-PR 38.165

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