Entendo que nem sempre é fácil lembrar de tudo o que foi dito ao longo de uma consulta. Essa publicação faz parte de uma série de textos sobre algumas das medicações mais comuns na prática clínica e tem como objetivo esclarecer possíveis dúvidas que possam surgir após o atendimento.
O escitalopram é um medicamento amplamente utilizado pelo seu potencial de aliviar sintomas relacionados a ansiedade e depressão. Ao iniciar o uso, é comum surgirem dúvidas sobre seus efeitos, tempo de resposta e possíveis efeitos adversos. Este texto tem como objetivo esclarecer essas questões e ajudar na melhor condução do tratamento.

O que esperar do escitalopram?
O escitalopram é um inibidor seletivo da recaptação de serotonina (ISRS), agindo para aumentar a disponibilidade desse neurotransmissor no cérebro. Esse mecanismo auxilia na regulação do humor e na redução da ansiedade.
• Início do efeito: os primeiros dias podem trazer algumas sensações diferentes, como leve aumento da ansiedade ou alterações no sono. Isso tende a melhorar em poucos dias.
• Alívio dos sintomas: normalmente, os benefícios começam a ser percebidos entre 2 a 6 semanas após o início do tratamento.
• Melhora progressiva: a evolução é gradual, sendo importante manter o uso conforme a orientação médica.
A medicação como parte de um processo
Embora o escitalopram ajude a reduzir sintomas de ansiedade e depressão, é fundamental que essa melhora abra espaço para reflexão sobre os fatores que podem estar contribuindo para o quadro. Estresse, relações interpessoais, estilo de vida e história de vida são aspectos que podem precisar ser trabalhados em conjunto com a medicação. Terapia psicológica, exercícios físicos, hábitos saudáveis e estratégias de autoconhecimento são aliados importantes no tratamento.

Possíveis efeitos adversos e como manejá-los
Algumas pessoas podem apresentar efeitos adversos ao iniciar o escitalopram. Felizmente, na maioria dos casos, eles são transitórios e podem ser amenizados com algumas medidas simples:
• Náuseas: são comuns nos primeiros dias. Comer algo leve antes da medicação pode ajudar.
• Boca seca: aumentar a hidratação e mascar gomas sem açúcar podem ser úteis.
• Alterações no sono: normalmente a medicação é prescrita pela manhã, mas 10% de que faz uso dela pode sentir sonolência. Nesse caso, mudar o horário de tomada para a noite tende a ser suficiente.
• Diminuição da libido: pode ocorrer em alguns casos e deve ser discutido com o médico durante a consulta.
• Sintomas iniciais de ansiedade: pode parecer um contrassenso que uma medicação para aliviar a ansiedade possa causar um discreto aumento desse sintoma nos primeiros dois a três dias. Se isso ocorrer, é possível iniciar com doses menores e aumentar gradualmente para minimizar esse efeito.
Um detalhe importante é o fato de que esses efeitos adversos são mais comuns no início de tratamento ou ao mudar de marca. Sendo assim, caso você se adapte a uma determinada marca, é recomendando que siga com esse mesmo fornecedor até o final do tratamento.
Seria muito bom que tivéssemos uma medicação que fosse suficiente para aliviar os sintomas ansiosos e depressivos de todas as pessoas, mas a gente sabe que isso não é possível. Primeiro, porque cada organismo reage de forma única às medicações em saúde mental. Segundo, porque questões relacionadas à nossa dinâmica de vida influenciam nas nossas emoções e pensamentos. Se, ao longo do tratamento, alguns dos efeitos citados acima persistirem ou você perceber que os objetivos iniciais propostos com a medicação não foram alcançadas, traga isso para a consulta. A medicação é uma - mas não a única - das estratégias possíveis para melhor lidarmos com nossos sintomas.
Paulo Henrique Mai
Médico de Família
CRM/PR 38.165
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